Ameaça: ONU irá votar proposta que pode autorizar o comércio internacional de araras brasileiras ameaçadas de extinção

O comércio da Ararinha-azul e da Arara-de-lear já está ocorrendo de forma disfarçada e, somente neste ano, 30 espécimes foram enviadas para um Zoológico privado na Índia

Entre os dias 6 e 10 de novembro, será realizada em Genebra, na Suíça, a 77ª reunião do Comitê Permanente da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies Silvestres Ameaçadas de Extinção das Nações Unidas (CITES). Essa Convenção internacional, da qual o Brasil é signatário, vai analisar diversas propostas para regulamentar o comércio mundial de animais selvagens. Entre essas propostas está uma que recomenda o incentivo do comércio internacional das espécies brasileiras Ararinha-azul (Cyanopsitta spixii) e Arara-azul-de-lear (Anodorhynchus leari). A Ararinha-azul, personagem do filme Rio, já foi declarada extinta na natureza e a Arara-de-lear está sob risco de extinção.

O documento que será analisado informa que a venda de exemplares dessas espécies para particulares, pode gerar recursos para ajudar os projetos de conservação. O maior plantel da Ararinha-azul do mundo está nas mãos de um obscuro zoológico na Alemanha, a Associação para a Conservação de Papagaios Ameaçados (ACTP). O proprietário dessa organização, o alemão Martin Gerhard Guth, já esteve preso por diversos crimes, como sequestro e extorsão, além de serem conhecidas as suas ligações com uma perigosa máfia que atua na Alemanha.

Em 2018, em uma iniciativa surpreendente, o governo brasileiro assinou um acordo com a ACTP de Guth para que ele construísse instalações na região de ocorrência das araras, no interior da Bahia e passasse fazer parte do programa de recuperação da Ararinha-azul (Cyanopsitta spixii). Na época da assinatura desse acordo, já eram públicas diversas acusações envolvendo a ACTP e o Sr. Guth, levando inclusive, dezenas de pesquisadores científicos e ongs a pedirem uma investigação das autoridades alemãs sobre suas atividades.

Em fevereiro desse ano, a ACTP transferiu 26 Ararinhas-azuis e 4 Araras-azuis-de-lear para o zoológico particular do bilionário indiano Mukesh Dhirubhai Ambani, que já declarou estar construindo o maior zoo de espécies raras do mundo. Segundo um documento da CITES, os “significativos valores” envolvidos não configuram “comércio” já que serão aplicados em projetos de conservação. Mas o documento não informa os valores e nem onde e quando esses recursos serão, de fato, aplicados.

Ong faz alerta e aciona o MPF para tentar impedir iniciativa que favorece o tráfico de animais e aumenta o risco de extinção sobre espécies ameaçadas do Brasil

A RENCTAS – Rede Nacional de Combate ao Tráfico de Animais Silvestres, enviou na semana passada um documento para os membros da CITES e da Comissão Europeia, alertando sobre os riscos das recomendações que serão debatidas na próxima reunião e, na data de hoje, entrou com uma Representação no Ministério Público Federal pedindo que o órgão intervenha junto aos Ministérios do Meio Ambiente e das Relações Exteriores, para que as autoridades brasileiras que irão participar do encontro em Genebra, assumam o compromisso de rechaçar a proposta de comercialização das espécies ameaçadas do Brasil.

É inacreditável que um país como o Brasil, seja tão irresponsável com as suas espécies ameaçadas, a ponto de abrir mão da sua soberania ao entregar, para uma organização estrangeira altamente suspeita e liderada por uma pessoa com um conhecido passado criminoso a gestão sobre a recuperação de espécies extremamente ameaçadas, como a Ararinha-azul e a Arara-azul-de-lear”, afirma Dener Giovanini, coordenador geral da RENCTAS.

Ainda de acordo com Giovanini, a proposta da CITES, se acatada, pode vir a beneficiar exatamente aqueles que contribuíram para acabar com a Ararinha-azul na natureza, cujo um único exemplar tem um valor estimado em € 1 milhão de Euros no mercado ilegal.

Para maiores informações: RENCTAS – (61) 3550-7227 / E-mail: cgeral@renctas.org.br

www.renctas.org.br

SEGUEM ABAIXO IMAGENS  DA ARARA AZUL DE LEAR

Crédito das fotos: Aldo J. Nunes

Crédito das fotos: Aldo J. Nunes
Crédito das fotos: Aldo J. Nunes